segunda-feira, 30 de junho de 2014

A dentada metafísica

Amigos, depois de passar o dia escrevendo na redação do jornal, resolvi abandonar o paletó e dar um passeio à beira-mar ao cair da tarde. A cidade esplendia de pessoas de todas as nacionalidades, tamanho, raça, cor... a vida abrindo-se em leque pelas calçadas, múltipla, variegada, parecia querer abanar o Cristo de pedra-sabão com seus movimentos, em conjunto, lentos e magistrais... uma babel de línguas enfeitiçava o ar, dando voz ao silêncio da maresia, fazendo do Rio a terra de toda a gente, como um dia falou, em tom menor, o poeta Manuel Bandeira. A Copa das Copas terminara a sua fase de grupos e as pessoas andavam pelas ruas como se passassem por portais entre, no mínimo, duas dimensões: a dos fantasmas da volta da rotina cotidiana e a do encantamento vivido diante das pelejas e gestos imprevisíveis deste mundial...

Cada um que exibia a camisa de seu país, e dos clubes de futebol mais amados de seu país, as envergavam como estandartes de luz, sequiosos por fazer história. O que me trazia, em quadros vivos à memória, ações e gestos marcantes ocorridos nesta Copa: seja por sua grandeza trágica; por ironias do destino; pelos impulsos revelados no coração da realidade, advindos das lonjuras do inconsciente mais profundo, individual ou coletivo; seja pelo atavismo cultural menos óbvio e mais passional possível.

Quem, em sã consciência, diria que a Costa Rica seria a sobrevivente vitoriosa, sem um arranhão, do Grupo da Morte? Quem diria que seleções campeãs ou tradicionais como Espanha, Inglaterra e Portugal voltariam para a Europa no primeiro navio de carga que atracasse no cais? Arúspices, xamãs, pais de santo, pitonisas, videntes de fundo de quintal seriam desmoralizados e morreriam de fome se vaticinassem, em êxtase, tais resultados.

E os lances, as atitudes, os movimentos – dramáticos e incontornáveis - que emergiram dos verdadeiros campos de batalha em que se desenrolaram as pelejas nessa Copa do ataque de coração aberto, do inesperado, do imprevisível? E a cotovelada nas costas dada pelo meia de Camarões no atacante croata? E os pênaltis não marcados e os marcados de modo duvidoso, a partir de representações canastronas dos jogadores atores de ocasião? E o lateral uruguaio que se recusou a sair de campo, ainda que combalido, não querendo abandonar por nada a arena de combate? E a dentada inapelável, infantil, arcaica, voraz, cega de Luisito Suárez? O que dizer desse gesto vindo das regiões mais insondáveis do ser? Que rito mágico quer recuperar a dentada metafísica do atacante da seleção Celeste Olímpica?

Lembro que em novembro de 1957, numa crônica para a Manchete Esportiva, escrevi sobre uma cusparada que Dida, jogador do Flamengo, lançou na bola, antes de Osmar, do Canto do Rio, bater uma penalidade nos últimos minutos do jogo, que daria o empate para o time de Niterói, perdendo então, àquele momento do match, por 2 a 1. Chamei-a de cusparada metafísica e a elegi como meu personagem da semana. Sim, a cusparada que não deixou a bola entrar e deu a vitória ao Mais Querido. O que moveu o atacante uruguaio, reincidente pela terceira vez, ainda que sabendo-se sob os mil olhos do monstro das câmeras de tevê, para repetir de novo a mesma ação obscura? Quais forças, místicas e profundas, o levaram àquela dentada transcendente e insólita?

E justo no momento em que tais reflexões me visitavam, surge à minha frente o Filósofo Botocudo, o sábio pós-moderno das florestas tropicais. O xamã do tronco lingüístico Macro-Jê vinha com andar elegante, como se desfilasse numa passarela internacional de moda, de bermuda jeans, sem camisa, de óculos escuros Maui Jim, com os seus indefectíveis botoques labiais e auriculares, colares e cocares de penas, o corpo untado de cinza, jenipapo e urucum, com um escapulário escrito Uruguai sobre os ombros e pescoço, segurando em uma das mãos o seu iphone.

Ao me ver, abriu um sorriso familiar, íntimo, de quem encontrava, finalmente, um irmão de alma e tribo, após longa jornada intangível pelos universos místicos e insondáveis, que visita com freqüência, a fim de negociar com os milhares de espíritos da natureza e da cidade. Sem poder conter a felicidade de encontrar criatura tão especial e amiga, dei-lhe um abraço fervoroso, fazendo-lhe, inevitavelmente, a pergunta que não quis calar: “Por que escapulário do Uruguai, sábio tropical? Abandonou a seleção canarinha, a nossa pátria de chuteiras?”

O Filósofo Botocudo, então, respondeu, pausadamente, de modo claro e firme, como quem conversa em pé de igualdade com montanhas, árvores milenares, noites cósmicas, penhascos e prédios de aço e vidro:

- Sr. Nelson minha alma transborda de contentamento ao reencontrá-lo, mestre das palavras encantatórias! O Sr. é o único homem branco que sabe manipular as potências dos significantes flutuantes, que abrem os portais que levam às muitas dimensões e mundos espirituais! Só o Sr. pode compreender a homenagem que estou prestando ao descendente contemporâneo da tribo amiga dos guaianás, Jês do Sul, cujos antepassados foram nossos antigos aliados em batalhas épicas contra tupis e colonizadores europeus filhos de Maíra. O bravo guerreiro Luisito Suárez merece cantos e danças imemoriais, pois apresenta ao mundo um de nossos rituais mais sagrados e tradicionais: a antropofagia...

Grande mestre do Brasil Profundo, respondi, muitos o estavam chamando de canibal, mas parecem não conhecer os ritos de nossos antepassados. Canibal come carne por fome e/ ou ferocidade, sem os cuidados detalhados dos ritos sagrados. O antropófago, por sua vez, realiza um ritual cósmico, de incorporação das forças do inimigo potente. Suárez fica a meio termo: tem um pouco do vale-tudo, de briga de rua, de teste dos limites das crianças; e tem o rito futebolístico do artilheiro solitário, brigando sempre com dois ou três zagueiros, que, para superá-los usa artifícios inesperados. Mas o que me parece mais interessante nessa história toda é que, mesmo sob o império do monstro de mil olhos das câmeras de tevê, seu instinto mais primal venha se expor de modo serial, desreprimido, incontido...

Nesse instante, vejo atravessar a rua, com seu casal de filhos lindos, um em cada braço, o “negão de ventas raciais”, o descendente bantu tricolor de coração. Estava vestido para banho de mar, assim como os filhos e, quando me viu conversando com o Filósofo Botucudo, abriu um sorriso de uma simpatia volatizada, captando a vibração que estava no ar, presságio de grandes vitórias e festas triunfais. Depois de dar um abraço apertado em mim e outro no sábio pós-moderno zen das florestas tropicais, o afrocarioca, sem meias palavras, entabula uma falação iluminada sobre o escrete, a imprensa e a torcida brasileiras:

- Sr. Nelson, está na hora do escrete brasileiro abandonar a humildade e o bom-mocismo! Se quer ser campeão, tem que entrar na guerra de foice no escuro que é uma Copa do Mundo. Todos estão dando a alma em campo pelos seus países, todos estão, inclusive nós; contudo, todos estão reclamando dos árbitros, fazendo toda sorte de pressão, dentro e fora de campo, disputando palmo a palmo o terreno e o ambiente em que se dão as batalhas! Nós parecemos dar beijinhos na testa de nossos inimigos, abraços no larápio que nos rouba em campo, tapinhas nas costas de quem acabou de nos pisar na cara! Veja o caso do pênalti genialmente cavado por Fred: a imprensa, os “entendidos” em geral, o povo das ruas, todos condenaram como se o nosso artilheiro do engenho e arte estivesse espalhando a peste na avenida! Não dá, Sr. Nelson, assim não dá! O politicamente correto é a outra face, mais adestrada e submissa, de nosso complexo de vira-latas! Temos que mudar isso já ou não seremos hexa! O futebol poético do Brasil, mesmo depois de anos de técnicos e burocratas tentando enquadrá-lo no futebol de prosa europeu, ainda é o melhor e mais bonito, o mais plástico e elegante de todos! Vamos ser campeões na categoria, na elegância, no peito e na raça! E chega de humildade politicamente correta! Agora é a hora de convencimento e empáfia! Sim, a hora de mostrar atitude e autoridade!



O “Negão de ventas raciais” parecia emanar luz por todos os poros, só faltou levitar e sair andando sobre as águas. O Filósofo Botocudo silenciou em respeito ao êxtase do descendente bantu, parecendo dialogar interiormente com todos os exus que dançavam pelo espaço impalpável ao redor do afrocarioca. A menininha mais nova puxou o rosto do pai numa carícia e disse, olhos nos olhos: - Papai, vamos dar um mergulho? Essa simples frase doce e sincera, extraordinária pela sua singeleza e tempo preciso, fez com que o “Negão de ventas raciais” retornasse a sua condição de pai cuidadoso e amoroso: - Claro, meu amor! Respondeu. E saíram os três alegres correndo e brincando pelas areias da cidade maravilhosa, rumo às águas azuis do mar!

domingo, 15 de junho de 2014

Humilhados e Ofendidos

Amigos, após os quatro primeiros dias de jogos, tudo indica que essa será a Copa das Copas! A Copa do Mundo que, mais do que meramente histórica, arquivada nos registros oficiais como mais um evento exótico nos Trópicos, ficará impregnada na alma e nas retinas de todos como a Copa dos lances e gestos polêmicos, patéticos, trágicos, cínicos, políticos, imorais. Os idiotas da objetividade, os lorpas e pascácios irão me perguntar: - imorais, mas por quê?

Sim, imorais! Quer maior imoralidade do que aquela abertura pífia da Copa, de escola primária, de um bom-mocismo inaciano, apresentando um Brasil sorridente e submisso, num país com uma pletora de artistas e criadores vitais, experimentais, radicais, pulsantes, e que começa a fazer presente seu incontornável destino de país do futuro? Quer coisa mais imoral do que os Narcisos às avessas, que cospem na própria imagem - já que o futebol é a pátria em calções e chuteiras -, tratarem o pênalti genialmente cavado por Fred, o artilheiro do engenho e arte, como um gesto execrável, quase um acinte público, numa tradição futebolística de grandes heróis – Nilton Santos, Luizão, Rivaldo, Pelé, Branco - que ajudaram a vencer pelejas homéricas com ginga e brilhantismo na canastrice melodramática de ocasião? Quer maior imoralidade do que a acachapante derrota, proibitiva e irresgatável, sofrida pela Espanha, atual campeã do Mundo, humilhada sem dó por um 5 a 1 vingativo e desmedido aplicado pela Holanda, vice do Mundial de 2010? Quer coisa mais imoral do que o desgoverno dos gastos astronômicos, para além do padrão FIFA, num país carente de justiça social, saúde, educação e transportes dignos, na organização deslavada de uma Copa que poderá coroar o fim definitivo do complexo de vira-latas do brasileiro?

Bem, eram nessas e em outras coisas que eu pensava quando, inesperadamente, ao dobrar a esquina da Álvaro Chaves com a Pinheiro Machado, em Laranjeiras, vejo a Loura Indignada passando, como um furacão, na parte de fora da calçada. Ao me ver, estanca o passo, ilumina-se com um fulgor que só os tricolores possuem - que os distinguem de todos os outros, e que permite que se reconheçam em meio à multidão -, corre em minha direção e me abraça como se nosso encontro casual estive marcado há milênios. Depois dessa efusão de afeto pelo reconhecimento de um irmão de paixão e alma, começa a desabafar, ritmando o movimento do dedo indicador e do pé direitos, simultaneamente, a cada ênfase dada às palavras, emitidas com a dor de Valquíria wagneriana, armada de elmo e lança, recuperando o herói morto em campo de batalha, para participar do exército mítico de Odin:

- Sr. Nelson, o que está acontecendo com essa nação? É o fim dos tempos; o mundo realmente está de ponta cabeça! O Sr. está acompanhando o achincalhe, o quase apedrejamento em praça pública que estão querendo impor ao nosso artilheiro-mor, o craque do engenho e arte? Estão ofendendo descaradamente quem nos deu dois títulos nacionais e a Copa das Confederações! Meu deus! Bem que o Sr. escreveu que toda unanimidade é burra, que o videoteipe é burro, e que as hienas, abutres e chacais, os “entendidos”, sempre rosnando de frustração, voltaram a influenciar os brasileiros com suas asneiras, agora a partir da verdade gélida do monstro de mil olhos da tevê, com seu detalhes e miudezas, com seu slow-motion, com seu replay desapaixonado! Se as câmaras dissecam as imagens e comprovam a verdade dos fatos, pior para a verdade e muito pior ainda para os fatos! E a vida vivida no presente? O acontecimento que aflora no calor trágico das batalhas campais, em que os jogadores e os juízes atuam movidos por um complexo que une instinto, intuição, inteligência, reflexo, tudo junto, ao mesmo tempo, sem segunda chance, tendo que tomar decisões de vida ou morte a cada segundo e que faz do futebol a arte viva que é? Hein, Sr. Nelson, me responde! Estão criando um esporte novo, uma outra coisa, um dispositivo politicamente correto, que pode ter o nome que quiserem, menos o de futebol!

Ainda tentando me recuperar da tontura que as flechas giratórias de palavras, lançadas pela deusa anglo-saxã, me causaram, balbucio uma resposta tímida, cuidadoso e respeitoso diante do êxtase indignado da deidade:

- É, amiga tricolor, os tempos estão mudando... Mas digo, sem retoques, que Fred sofreu um pênalti óbvio, ululante, e que o zagueiro croata puxou-o pelo ombro, não de modo descarado, mas puxou-o. O juiz viu e marcou. Estamos tão acostumados com a verdadeira luta greco-romana que zagueiros e atacantes travam nas grandes áreas dos jogos do futebol brasileiro que, quando um juiz japonês marca falta num toque assim, existente porém despretensioso, desacreditamos na vítima e enchemo-nos de fúria e repulsa. A beleza plástica e dramática do lance, contudo, não pode ser desprezada e esquecida: a queda maravilhosa de nosso artilheiro, que atuou como um ator acionado representando Aquiles sendo flechado no calcanhar, numa tragicomédia escrita por um Victor Hugo embriagado... Deixa estar, Loura Indignada, continuei, a Copa está apenas começando, tenho certeza que o caneco será nosso, e que Fred, o artilheiro do engenho e arte, junto com Neymar, o bailarino do improvável, vão fazer a multidão brasileira subir pelas paredes como lagartixas profissionais, se pendurar nos lustres, dar cambalhotas de entusiasmo báquico!

Nesse instante, a deusa da Aurora Boreal é atravessada por um raio lúcido, me olha com olhos vítreos, abre um sorriso de arco luminoso e responde:

- Sr. Nelson, por isso que eu te amo! O Sr. é um poeta, vive possuído por forças sagradas, telúricas, brasileiras! Isso, a Copa está apenas começando! Fred vai calar a boca de muita gente! Principalmente dos “entendidos”! Isso mesmo, Sr. Nelson! Maravilhoso! Viva! Salve! Evoé! Um poeta delirante!

E virou-se num ímpeto repentino, como se fosse subir em seu cavalo alado de Valquíria, e seguiu em frente, andando com a elegância de uma rainha inglesa e gargalhando alto como se tivesse baixado a pombagira, repetindo as minhas últimas palavras com voz misteriosa... se pendurar nos lustres... entusiasmo báquico... lagartixas profissionais...

Como que aliviado, após o contato com aquela potência vital ctoniana, segui o meu caminho rumo ao jornaleiro, a fim de ler as manchetes dos jornais penduradas na lateral da banca. Todas louvavam o feito épico da seleção da Holanda, a divina goleada aplicada na Espanha, a invencível armada que vinha dominando o cenário futebolístico nos últimos anos, com seu estilo tic tac, com seus craques pacientes e precisos, com seu futebol envolvente, encantatório, de terço rezado em silêncio católico. Contudo, toda aquela euforia feérica da imprensa e do homem das ruas, com a certeza absoluta de que tinha despontado o verdadeiro candidato ao título, a seleção holandesa, e que as pretensões de manutenção do reinado espanhol tinham definitivamente naufragado, me incomodava e inquietava.

Enquanto tentava decifrar a sensação que me visitava, sinto pousar em meu ombro, de modo lânguido e enigmático, um objeto que me causou, de imediato, calafrio. Assim que me viro, percebo que fora tocado pela palma macilenta e lívida da mão de um velho conhecido: o Atleticano Melancólico, o Romântico das Alterosas, sempre atravessado pela coita amorosa, mas que, ao me reconhecer, desprendeu um rápido brilho do fundo dos olhos tristonhos para, logo a seguir, se perder na retina, retornando, assim, para o seu estado mórbido constante de abatimento profundo. De modo pausado e olhando para o infinito, o Atleticano Melancólico me disse as seguintes palavras:

- Sr. Nelson, é sempre um prazer revê-lo... O Sr. não imagina quanto... Vejo que o Sr. está tendo, talvez, o mesmo pressentimento que eu. 5 a 1 é um placar monstruoso, fatal, que promove duas vítimas, a que perde e a que ganha. Ao contrário do que todos estão pensando, acredito que a Holanda cavou, com os próprios pés, um doloroso e irremediável abismo: sangrou de humilhação o adversário, numa desmedida trágica, a hybris que causa o ciúme dos deuses do futebol das Copas do Mundo, que seguem, atentos, aos jogos entre equipes campeãs. Se tivesse ganhado com um sábio 1 a 0 ou, no máximo, um sóbrio 2 a 0, se não tivesse dominada pela vingança, numa cegueira crassa, não sossegando enquanto não visse a Espanha arrasada, a seleção holandesa seria, sim, pela categoria de seus jogadores e aplicação tática, candidata ao título. No entanto, a real candidata ao título, agora, é a Espanha, que precisava se revitalizar, deixar cair a máscara que pesava, precária, e dessa forma eletrizar seus brios adormecidos. A Holanda, ao espicaçar a Espanha, deu à Fúria o incentivo decisivo que faltava e, como todo vencedor convencido de sua inquestionável vitória, vai desarmar-se interiormente, perdendo o ódio e a irritação, deixando-se apunhalar pelos próximos adversários.

E mais pálido do que nunca, parando para recuperar o fôlego, após um discurso pungente e lúcido, o Atleticano Melancólico completou, de modo mortiço, mas com a eloqüência retórica de um Vieira ou de um Shakespeare:

- A Espanha foi humilhada e sabemos que a humilhação, a grande e irresgatável humilhação, confere aos homens e aos times uma dimensão nova, uma potencialidade irresistível.

Depois do que, me abraçou com leveza quase inumana, acendeu um cigarro, e ficou olhando, com suas olheiras abismais, os carros passando pela Rua Pinheiro Machado, em Laranjeiras, na Cidade Maravilhosa pela manhã, como se fosse o viajante acima do mar de névoas do arquifamoso quadro do romântico germânico Caspar David Friedrich.